O Tarô da Linguagem Simples

Cartas que revelam dicas para escrever com foco no entendimento por quem vai ler

Um baralho de dicas

Os arcanos deste Tarô da Linguagem Simples reúnem dicas distribuídas entre os naipes das palavras, das frases, da estrutura e do contexto. As dicas recebem nomes curtos e fáceis de identificar, e são apresentadas de forma breve em cada carta. Além disso, são complementadas por explicações adicionais, logo abaixo de cada uma das cartas.

Criei um baralho com as dicas que colecionei na minha jornada pessoal de aprendizado da Linguagem Simples, porque encontrei nele uma forma fácil de memorizar as técnicas que preciso dominar para escrever de maneira mais direta e acessível. Eu uso este Tarô da Linguagem Simples como apoio durante a construção de textos, e sempre recorro a ele também na hora da revisão, olhando carta por carta na busca por oportunidades de simplificar o texto.

Colecionei dicas porque raramente é fácil descrever de forma simples as complexidades da nossa vida profissional. Além de exigirem técnicas próprias, os procedimentos podem ir contra o que praticamos ao longo de décadas, e até contra o que aprendemos na escola.

Compartilho a seguir a íntegra do baralho para quem desejar usar individualmente. Caso você tenha interesse em adotar na sua organização, distribuir o conteúdo ou incluir em alguma outra iniciativa, entre em contato comigo para conversarmos a respeito: o meu e-mail é augusto@augustocampos.net.

Conheça também o Bingo das Palavras Difíceis!


As cartas com dicas de Linguagem Simples

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1 - A Conexão

Escreva com empatia, adaptando o texto ao seu público de interesse.

Saiba a qual público o seu texto se dirige, e escreva considerando o vocabulário e as estruturas mais familiares a essas pessoas. Priorize a simplicidade que permita a plena compreensão da sua mensagem pelo público que você quer alcançar.

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2 - O Spoiler

Comece pela informação mais importante, e siga em direção aos detalhes.

Apresente no primeiro parágrafo a informação mais essencial do seu texto. A não ser que você esteja escrevendo um roteiro de novela ou outro tipo de texto cuja técnica exija reservar a grande revelação apenas a quem tiver interesse em ler tudo até o final!

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3 - A Sequência

Priorize a ordem direta, escrevendo frases na sequência: SUJEITO - VERBO - OBJETO.

Prefira a organização mais comum às frases usadas no dia a dia, mesmo que os textos que você costuma produzir para consumo interno usem padrões impessoais, orações sem sujeito, inversões, orações intercaladas e outros recursos ou estilos valiosos mas com finalidade específica e aplicabilidade restrita.

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4 - O Eco

Aceite repetir palavras, é melhor do que apelar a sinônimos pouco usados.

Aprendemos na escola que repetir palavras reduz a qualidade das redações, mas quando a prioridade é o entendimento, repetir uma palavra que o seu leitor conhece é melhor do que apelar para aquele sinônimo que todos os seus colegas usam mas o público externo não sabe o que é.

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5 - O Alinhamento

Ajuste o grau de formalidade à finalidade do texto, e não a um padrão costumeiro.

Você não usaria linguagem jornalística ao escrever um contrato, e também não deve tentar ser enciclopédico ao escrever uma notícia, nem aplicar técnica jurídica ao compor um texto educacional. Mesmo que a sua área de atuação tenha padrões refinados para a sua escrita interna, o que deve dominar na hora de escrever para o público externo são as formas que ampliam a compreensão. Veja também a Carta 1.

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6 - A Singularidade

Comunique uma ideia de cada vez ao compor as suas frases e parágrafos.

Evite as frases polivalentes, as orações intercaladas, e as construções que tentam explicar várias coisas ao mesmo tempo. O ideal é que cada frase tenha apenas um foco, e bem definido. Se o seu texto precisa abordar a regra, a exceção e os exemplos, faça isso em frases separadas.

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7 - A Concisão

Escreva pouco para ser entendido: a meta internacional é de frases com máximo de 20 palavras.

Quanto mais longa a sua frase, maiores são as oportunidades de dividi-la em várias. As frases curtas e bem conectadas são mais fáceis de entender, e exigem menos ginástica mental para construir a ideia que o texto quer transmitir.

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8 - O Borrão

Evite metáforas, analogias e outras figuras que reduzem a precisão.

Para afirmar ideias de forma concreta, é necessário privilegiar o texto descritivo e assertivo. Para isso, o ideal é deixar de usar os recursos literários que transmitem conceitos de forma indireta, por meio de sugestão ou ainda recorrendo a capacidades mais avançadas de interpretação de texto.

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9 - A Revisão

Revise antes de entregar, procurando também os trechos complicados ou que permitam dúvida.

A revisão é um passo necessário a qualquer texto elaborado de forma profissional. No mundo da Linguagem Simples, a revisão ganha objetivos adicionais, como encontrar e substituir palavras complicadas, reescrever trechos que ficaram fora da ordem direta, e reposicionar ideias para priorizar as mais importantes. Você pode usar este baralho como apoio na hora de revisar!

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10 - O Dicionário

Explique ao longo do texto as palavras difíceis que não conseguir remover.

Quando não for possível deixar de usar uma palavra difícil, a solução ideal é explicar o significado dela no próprio corpo do texto, junto ao primeiro trecho em que ela aparecer. Recursos como glossários e notas de rodapé podem complementar essa estratégia, mas não são bons substitutos para ela.

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11 - A Ordem

Construa parágrafos com frases curtas em sequência, evitando também as orações intercaladas.

O ideal é se expressar de forma similar à escrita jornalística, com parágrafos estruturados em frases curtas, encadeadas com lógica de forma a responder às perguntas do leitor na ordem em que elas tendem a aparecer. Resista especialmente à tentação de escrever orações intercaladas em uma mesma frase: ao invés de separá-las entre vírgulas ou traços, promova-as a frases separadas e completas!

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12 - A Confusão

Evite truncar o texto pelo excesso de vírgulas ao encadear ideias.

Não corra o risco de perder o fluxo mental do seu leitor. A dica vale para a vírgula, mas também para o ponto e vírgula, os traços separadores, os parênteses e todos os sinais gráficos que interrompem o fluxo contínuo da frase. Se a lista for grande demais, ou tiver idas e vindas, o melhor é procurar outra alternativa.

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13 - A Solidez

Use palavras concretas, que representem ações, sujeitos, objetos físicos, datas e lugares.

As chances de uma interpretação errada ou de uma compreensão incompleta crescem conforme aumenta a abstração das palavras do seu texto. Palavras abstratas incluem as que designam atos, estados, qualidades, ideais, sensações, sentimentos, percepções, vontades.

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14 - A Estrutura

Inclua títulos e subtítulos para guiar o leitor em textos mais longos.

A organização do texto em grupos de parágrafos com temas em comum, indicados por subtítulos, ajuda na compreensão por quem for ler o texto inteiro, e é um recurso valioso para quem for reler procurando um detalhe ou foco específico.

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15 - O Salto

Rejeite a complexidade trazida pelas expressões relativas (cujo, o qual etc.)

Mesmo quando usadas corretamente, essas expressões tornam mais complexa a interpretação. É um custo alto demais para evitar repetir um sujeito, dividir uma frase, ou reescrever o fluxo do texto de uma forma que permita o uso de um pronome do caso reto (como "eu", "ela") ou demonstrativo (como "isso" ou "aquele"). Veja também as cartas 7 e 11.

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16 - A Atividade

Opte pela voz ativa no lugar da voz passiva, sempre que for possível.

Prefira a comunicação mais concreta trazida pelas orações que tenham um sujeito determinado e evidente. A voz passiva é valiosa em categorias de textos que demandam graus específicos de impessoalidade e de precisão, mas raramente é a escolha ideal na comunicação com o público em geral.

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17 - A Clareza

Retire o máximo de adjetivos, advérbios e locuções adverbiais, para evitar os estilos rebuscados.

Os mesmos qualificativos que colorem a prosa e o verso também interferem no melhor entendimento de um texto que deseja transmitir de forma direta uma instrução ou noticiar com clareza um fato. Há adjetivos e advérbios necessários ao entendimento: identifique-os, valorize-os, e remova os demais.

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18 - A Noção

Exclua palavras que possam ter significado ofensivo, discriminatório, sexista ou pejorativo.

Além de todos os motivos mais importantes para não discriminar nem ofender, lembre-se também que você não terá sucesso na comunicação se o seu leitor se sentir excluído ou desrespeitado pelo texto que você escreveu. O seu motivo para escolher uma expressão será irrelevante se o leitor se sentir discriminado ou ofendido por ela!

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19 - A Abreviação

Inclua o nome completo antes das siglas, na primeira vez que aparecerem no texto.

Siglas podem ser um recurso útil para a tornar o texto mais breve e legível, mas só funcionam se o seu leitor souber o que elas significam. A Linguagem Simples é inclusiva: até mesmo aquele raro leitor que não conheça uma sigla de uso comum deve poder entender o seu texto sem precisar fazer consultas ou pesquisas.

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20 - O Enigma

Afaste do seu texto os estrangeirismos incomuns, e também os jargões e os regionalismos.

Evite palavras que só serão compreendidas por quem já convive com o assunto que você deseja comunicar. Substitua por palavras comuns ou, caso não haja substituição possível, use recursos explicativos como aqueles descritos nas cartas 10 e 19.

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21 - A Lista

Use marcadores de tópicos quando for listar itens, evitando frases com excesso de vírgulas.

Pode ser lista pontuada, lista numerada, ou qualquer formato que coloque um item em cada linha. Até mesmo incisos e alíneas são mais legíveis e estruturados do que uma frase com mais do que 3 itens separados entre sinais de pontuação. Veja também a Carta 12.

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22 - A Desnominalização

Use verbos que expressam ações diretas, e não substantivos que atuam como verbo.

Nominalizar significa transformar uma palavra para usá-la como substantivo, e aqui falamos de fazer o oposto: ao encontrar no seu texto uma indicação de ação do leitor, descrita usando um verbo que foi nominalizado, verifique se é possível reescrever com o verbo original.

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23 - O Óbvio

Inclua no texto até aquilo que você considera óbvio, pois o seu óbvio pode não ser o mesmo do leitor.

O óbvio é subjetivo. Retirar de um texto as afirmações ou contextos que você considera óbvios pode deixar de comunicá-los ao leitor menos informado sobre o tema, ou que eventualmente tenha posicionamentos diferentes sobre o mesmo tópico. E mais: nesse tipo de situação, há possibilidade de que o trecho que você considerou óbvio mereça destaque, e não remoção. [Agradecimento à Fabiana Feibs Fidelis pela sugestão desta carta!]

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24 - A Paciência

Não tente antecipar as respostas a dúvidas na mesma frase em que comunica uma ideia.

Explique tudo que precisar de explicação, mas faça isso em frases diferentes e evitando complicar. Supor ou saber quais os questionamentos que o leitor terá enquanto acompanha o seu texto às vezes gera uma redação defensiva, que aumenta a complexidade. Não vale a pena: quem queria questionar, continuará questionando – e as dúvidas genuínas aumentarão.

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25 - A Enciclopédia

Para promover ação, concentre-se no contexto necessário - não tente dar sempre a visão integral.

Essa é uma das situações em que o excesso atrapalha. No momento da revisão, caso perceba que exagerou no detalhamento e na contextualização, reduza, mas guarde uma cópia para transformar em um texto complementar. Ofereça esse texto complementar como referência, e você terá o melhor de dois mundos.

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26 - A Exceção

Não tente descrever a regra e a exceção em uma mesma frase, nem use a exceção como exemplo.

Usar a exceção como parte da explicação inicial de uma regra, se não for distração, é algo que nos aproxima da Carta 24, e deve ser evitado. Algumas exceções são mesmo muito importantes, a ponto de merecerem menção no seu texto. Quando for o caso, mencione em uma frase separada, e destacando que se trata de exceção.

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27 - O Desenho

Use diagramas, gráficos, tabelas e ícones para facilitar a compreensão das ideias escritas.

Incluir recursos gráficos como complemento à apresentação textual é um auxílio importante à transmissão da informação, e pode multiplicar a compreensão. Mas use as ferramentas de acessibilidade, para que as pessoas que não possam ver as imagens também possam se beneficiar desse apoio.

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28 - O Complemento

Faça dois documentos caso seja impossível equilibrar em um só a precisão técnica e a simplicidade.

Escreva um documento explicativo complementar, se for inviável escrever um contrato, uma norma ou outro tipo de documento usando linguagem simples. Lembre-se de publicar ambos em conjunto, e de manter o documento complementar atualizado ao longo do ciclo de vida do documento principal!